As Rosinhas: o poder feminino por trás de um walking tour feminista
- walkingtourwithvanessa
- 22 de out.
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Conheci a Ana há cerca de um ano. Conversa puxa conversa, e ficou combinado – entre palavras e sorrisos – que nos juntaríamos para um walking tour feminista.
Este tão esperado encontro aconteceu no dia 30 de setembro. E, como é habitual, o ponto de encontro do tour feminista “Lisboa sob o olhar da mulher” foi no Parque Eduardo VII, pelas 10h.
As Rosinhas
As Rosinhas são o resultado de um projeto familiar que nasceu de uma necessidade enorme.
Perante a falta de soluções de próteses provisórias externas para mulheres mastectomizadas, o projeto nasceu em 2020.
O principal objetivo centra-se em oferecer próteses mamárias artesanais e provisórias a todas as mulheres que delas necessitem, enaltecendo a autoestima e a qualidade de vida.
O mais fascinante é que estas próteses são feitas apenas de 2 materiais: meias de mousse e sementes de milho-alvo.
Apresentam-se como discretas, confortáveis e facilmente adaptáveis à fisionomia de cada mulher.
O Cancro da Mama
Sou uma jovem ativa e saudável, mas, como qualquer mulher, carrego um enorme receio que se chama cancro.
O cancro da mama é o tipo de cancro mais comum entre as mulheres e, atualmente, representa a primeira causa de morte por cancro no sexo feminino.
Estima-se que, em Portugal, sejam detetados anualmente cerca de 9 000 novos casos de cancro da mama, e que mais de 2 000 mulheres morram com esta doença.
É uma doença com um enorme impacto na nossa sociedade, não só por ser muito frequente, mas também porque atinge um órgão simbólico feminino, fortemente associado à maternidade e à feminilidade.
Por isso, é fundamental realizar exames de rastreio periodicamente. Recomenda-se que as mulheres, após os 40 anos, façam uma mamografia anualmente, ou de 2 em 2 anos.

Walking tour feminista
Tenho de dizer que estar na presença de 8 mulheres, das quais 6 passaram por este processo profundamente doloroso, foi uma experiência tão, mas tão gratificante.
Sentir a presença delas, a sua feminilidade, ver a sua beleza, felicidade e boa disposição contagiante foi algo que me inspirou profundamente.
Nenhuma das participantes tinha participado antes numa atividade turística semelhante. Por isso, o entusiasmo e a curiosidade eram enormes.
A maioria era da região e, à medida que fui desvendando histórias femininas da cidade de Lisboa, todas demonstravam indignação por não conhecerem melhor a história das mulheres da sua própria terra.
Com isto, tenho ainda mais a certeza de que, mais do que promover um walking tour feminista ou qualquer outra atividade semelhante, é urgente promover o conhecimento sobre a história das mulheres, independentemente da cidade escolhida.
Quanto mais ausente estiver a mulher da História, do património cultural e dos próprios lugares, mais enfraquecemos a memória feminina.
Estas 8 mulheres mergulharam a fundo no percurso. Vê-las a absorver o conhecimento, as histórias e as curiosidades, bem como a participar ativamente — tirando tempo para discutir, refletir, expor opiniões, vivências e dúvidas — é algo que venero em cada tour que dinamizo.
Porque, na verdade, é isso que procuro: criar um espaço empoderador, inspirador e acolhedor, onde possamos refletir, aprender e inspirar-nos em mulheres que foram fundamentais na construção da História, do património e dos lugares.
O percurso feminino teve a duração estipulada de 3h30 e terminou em grande, com a leitura de um poema de Maria Teresa Horta.
Uma mulher, uma história, uma curiosidade
Fanny Burney foi uma romancista e dramaturga inglesa, nascida em 1752, considerada uma das primeiras romancistas britânicas, autora de sátiras sobre a sociedade em que vivia.
O seu primeiro romance, “Evelina”, foi publicado em 1778 anonimamente e sem o conhecimento do pai.
Raro para a época, o livro foi pioneiro ao apresentar uma protagonista feminina e ao criticar os valores masculinos que moldavam a vivência das mulheres.
Para melhor a contextualizar no tempo, Fanny Burney foi antecessora de Jane Austen.

Este romance foi um sucesso na altura e, alguns meses depois, Fanny assumiu a sua autoria.
Ao longo da vida, escreveu quatro romances, oito peças, uma biografia e vinte e cinco volumes de diários e cartas.
Mas a história de Fanny vai muito além dos livros. Ela é um dos poucos exemplos conhecidos de uma mulher que sobreviveu a uma mastectomia sem anestesia, no século XIX.
Fanny começou a sentir fortes dores no seio direito, que se agravaram a ponto de já não conseguir levantar o braço. Foi diagnosticada em 1810. O diagnóstico? Cancro da mama.
Em 1811, foi submetida a uma cirurgia que durou 20 minutos.
Fanny nunca se moveu, protestou ou impediu que os médicos fizessem o seu trabalho.
Durante os meses que se seguiram, Fanny fechou-se na sua bolha, não conseguindo falar sobre a operação.
Até que em 1812, numa carta de 12 páginas dirigida à irmã, descreveu detalhadamente todo o processo.
Esta carta foi digitalizada pela Biblioteca Britânica e constitui um verdadeiro testemunho feminino de uma operação anterior à descoberta da anestesia — quando a cirurgia ainda dava os primeiros passos na medicina.
Fanny viveu mais 29 anos após a cirurgia — um verdadeiro milagre para a época. O seu relato é difícil de ler, mas também é uma história de esperança.
Últimos pensamentos
Sei que cada mulher que participou no walking tour feminista levou um bocadinho de mim, e eu absorvi um bocadinho de cada uma das que caminharam comigo por Lisboa.

As mulheres são anjos.
São seres humanos poderosos.
São belas, fortes, capazes de aguentar e ultrapassar momentos que muitos não imaginam.
As mulheres são o resultado da sua própria história e da sua resiliência.
Através do projeto As Rosinhas, destas oito participantes e do walking tour que dinamizei, saí de lá mais cheia, mais completa, transbordando amor, felicidade e empoderamento.
E é isso tudo que desejo a todas as mulheres.
Se és uma associação ou procuras inspirar mulheres, vê os walking tours feministas disponíveis no catálogo — ou entra em contacto comigo para conversarmos.
💗 Que o Outubro Rosa seja sempre celebrado!
Com carinho,
Vanessa

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