Roteiro feminino em Lisboa com a HeForShe

Deixa-me perguntar-te: Já participaste num roteiro feminino?

A maioria das minhas viajantes responde-me com um aceno de cabeça negativo, olhar curioso e sorriso envergonhado. Mostram um profundo interesse no tema e no final agradecem-me pelas histórias, pelo conhecimento e pela sensibilidade.

Como mulher (viajante) sempre procurei compreender a minha história e a evolução na narrativa histórica. É algo inerente ao meu ser, que me faz pesquisar, ler, debater e partilhar. Não sei clarificar o momento exato em que comecei a questionar o papel da mulher na sociedade, mas isso levou-me, já estava eu no 1.º ano de mestrado em património cultural, a escrever um ensaio onde cruzei a memória feminina com a memória coletiva e património cultural.

A invisibilidade da mulher na história

É sabido que a mulher não fez parte da narrativa histórica. É notório quando prestamos atenção às informações e apenas nos é falado de grandes homens e grandes feitos.

Já paraste para pensar nisso? Então, faço-te a pergunta: onde estão as mulheres na narrativa?

Há uns meses, escrevi um artigo à qual me debrucei sobre essa questão. Inclusive abordei um exemplo de distorção feminina que merece a tua atenção. Se tiveres interesse em ler, podes fazê-lo ao clicar aqui.

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Recentemente, recebi um email à qual me convidavam para dinamizar um roteiro feminino pelas ruas de Lisboa e fazer aquilo que mais gosto: contar histórias de mulheres que marcaram o seu tempo e que, ainda hoje, precisam de ser lembradas.

HeForShe

A HeForShe é um movimento internacional que tem como propósito a igualdade de género, integrando os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 2030 da Organização das Nações Unidas.

O movimento foi fundado em 2014 pela UN Women e o seu principal objetivo é envolver toda a sociedade na promoção da igualdade de género.

O desafio é colocado a todas as empresas e instituições que, em conjunto, unem esforços e participam ativamente nos progressos da igualdade. É crucial o envolvimento de homens e mulheres.

Uma das figuras que dá voz e rosto ao movimento é Emma Watson, que atraiu a atenção de milhares de pessoas para o desenvolvimento da HeForShe e é, atualmente, uma das principais responsáveis pelos avanços significativos do movimento.

HeForShe Lisboa

É, neste contexto, que surge a HeForShe em Lisboa em prol da Conferência 2020, organizada pela HeForShe Universidade Nova de Lisboa. O ponto de partida deu-se nas universidades e, mais tarde, concretizou-se nos centros de investigação e conferências.

Mediante diversas iniciativas, a HeForShe procura apelar à igualdade de género na cidade das 7 colinas. Em cima da mesa, estão discussões e debates que potenciam a consciência cívica, a inclusão e o ativismo.

Turismo feminino em Lisboa

O turismo é um aliado quando falamos na educação. Porque não optar por atividades que vão além do superficial, do turismo tradicional? Eu sei que tu, mulher viajante, procuras experiências autênticas, significativas e que te transformem. Que te façam refletir, conectar e aprender. É a pensar em ti e nos teus desejos que criei walking tours culturais femininas na cidade de Lisboa.

Já pensaste em conhecer uma cidade sob uma visão feminina? Percorrer as ruas de Lisboa, conhecer a sua história, compreender o seu património e cultural e, ao mesmo tempo, lembrar e homenagear as vozes esquecidas e subestimadas das mulheres?

Acredito que cada visita guiada é uma oportunidade para descobrir histórias e memórias, porque na realidade, nós, seres humanos, somos memórias. Pessoas memórias!

Roteiro feminino em Lisboa

Sem mais demoras, deixa-me contar-te um bocadinho deste passeio feminino que foi realizado num bonito dia de sol. Era domingo.

O ponto de encontro do percurso foi a Sé de Lisboa. Eram 9h30 quando cheguei e ainda faltavam alguns minutos para a hora marcada: 9h45. Seitei-me num banco ali perto, e observei as pessoas que por ali andavam. Umas montavam as suas bancas para darem início a um longo dia de trabalho, outras fotografavam a velha Sé.

Por volta das 10 horas da manhã, éramos 8 pessoas cheias de energia para começar uma viagem pela história feminina na capital de Portugal.

Defronte para a Sé, fiz questão de abordar uma mulher memória, como lhes gosto de chamar, que apenas é conhecida por ser a mãe que o filho derrotou em campo de batalha. Mas, cá entre nós, Dona Teresa de Leão foi muito mais isso. Digo-te mais: ela foi reconhecida pelo Papa como Rainha de Portucale.

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Seguimos caminho e parámos diante do Museu do Aljube, uma antiga prisão que já funcionou como uma cadeia de mulheres, conhecida pelas suas péssimas condições e ali funcionou até à década de 1920. Mais tarde, foi o lugar escolhido para ser a prisão destinada aos presos políticos do Estado Novo.

Aqui, neste lugar, não poderia deixar de falar sobre as mulheres do Estado Novo, o ideal feminino durante o regime e algumas mulheres que deram voz e luta pelos direitos das portuguesas.

Fomos brindamos com uma entrada ao museu e ali podemos ver, no último piso, uma exposição temporária em homenagem aos 50 anos de liberdade de Portugal.

Ao descer, uma paragem rápida no piso 2, lemos e aprendemos sobre o quotidiano da prisão e alguns relatos de presos sobreviventes. Mulheres também deram o seu testemunho. É impossível não nos arrepiarmos com tamanhas atrocidades feitas.

Amália Rodrigues foi homenageada e determinou o início da subida para o bairro da Graça.

Bairro da Graça

A Graça é um bairro pitoresco, cheio de energia, arte, literatura e vistas deslumbrantes para a cidade de Lisboa.

Por estas bandas, falamos das mulheres que deixaram a sua marca na arte, literatura e cultura portuguesa. Mulheres que lutaram pela sua voz e pela das suas companheiras que partilhavam as mesmas dores, lutas e desafios.

Fotografias foram mostradas, cafés e casas onde viveram e frequentaram foram os cenários. Na mente, a imaginação de como era no seu tempo.

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Falar da mulher é reintegrá-la na narrativa histórica. Por palavras simples, é torná-la num sujeito histórico. Se queremos, efetivamente, valorizá-la, temos de lhe dar contexto e inseri-la no espaço, com a visão de ultrapassar a discriminação de género, aprender realmente sobre a História e contribuir para uma sociedade mais justa.

As mulheres memórias fazem-se de histórias, lutas e ambições. Imortalizam-se na poesia, numa história de Lisboa que precisa de ser contada. Porque a cidade também é das mulheres e elas são a prova disso.

As mulheres memórias são isso… feitas de memórias. E urge preservar essa memória feminina.

De modo lento e sustentável, emerge o turismo cultural vestido de feminino. Algo inédito em Lisboa.

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O tour em Lisboa terminou por volta das 12:30 horas, o sol já ia alto e o calar já apertava. Terminamos já perto da Avenida Almirante Reis, junto à livraria Greta, um espaço dedicado à venda de livros escritos pela mulher.

Os sorrisos na cara e a boa disposição são a prova de conhecimento aliado ao turismo cultural é a perfeita atividade para um domingo de manhã.

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Tens dúvidas ou queres conversar?

És uma mulher viajante que valoriza experiências autênticas e vês em Lisboa um cenário ideal para uma imersão profunda. Sei que te atreverás a desacelerar, a respirar fundo e a conhecer cada canto desta cidade, na tua próxima visita.

Próxima, porque regressámos sempre aonde somos felizes!

Se precisas de um suporte extra, eu forneço walking tours culturais no feminino para almas viajantes que procuram experiências além do óbvio. Um caminho que mostra uma versão diferente da história de Lisboa.

Se precisares de conhecer a cidade de forma independente, não deixes de fazer o download gratuito do ebook "Um guia de viagem em Lisboa".

Alguma questão, não hesites em enviar-me uma mensagem.