A história tem sido dominantemente escrita sob a perspetiva masculina, marginalizando a participação e contribuição das mulheres ao longo dos séculos. Esta invisibilidade tem causado um desequilíbrio democrático, destacando a necessidade de questionar: “Para que serve a história das mulheres?”
O direito a lembrar e o direito à memória afirmam-se como uma principal reivindicação das mulheres.
Narrar a história das mulheres é romper o silêncio. Afirmar a sua cidadania ativa na sociedade. É revelar o seu papel e ação. Ao examinar a evolução humana desde a pré-história, é essencial olhar para expressões culturais como a arte, literatura e leis para compreender a condição feminina na sociedade.
Em Portugal, por exemplo, a compreensão da mulher medieval requer uma análise cuidadosa dos textos do cronista Fernão Lopes. É evidente que ao longo história, as mulheres foram excluídas da narrativa histórica, tornando-se, de certa forma, sujeitos a-históricos.
Invisibilidade das mulheres na história
Quando mencionadas, as mulheres muitas vezes eram retratadas de maneira distorcida e, quase sempre, culpabilizadas pelo desenrolar dos eventos históricos.
Sustentava-se a crença de que a mulher tinha-se desviado do seu papel de mulher: mãe e esposa. Isto é, tinha quebrado as regras estabelecidas.
Exemplo de distorção da imagem da mulher
A imagem da famosa Rainha Cleópatra é um exemplo claro da manipulação e distorção feminina.
Cleópatra, a última rainha do Egito, foi rotulada como sedutora e traidora, quando, na verdade, era uma mulher emancipada e culta, cujas habilidades políticas eram notáveis.
Ela cresceu numa sociedade onde os modelos do papel feminino eram poderosos, visto que as mulheres do Antigo Egito tinham muitas liberdades: podiam pedir o divórcio, gerir os seus próprios bens e ocupar cargos importantes.
Não é expetável que alguém como a Rainha Cleópatra fosse vista como perigosa ou manipuladora nas sociedades mais conservadoras.
Por fim, a rainha sabia falar 8 idiomas e foi responsável pela escrita das suas próprias receitas de medicina e cosmética.
A representação feminina na história
O ideal feminino foi moldado a partir de uma visão predominantemente masculina, com figuras notáveis de diversas épocas influenciando essa perspetiva.
Por um lado, Jean-Jacques Rousseau, renomeado filósofo, defendia a ideia de que a mulher deveria desempenhar um papel submisso, sendo uma companhia amável para o homem e dedicando-se às virtudes da vida doméstica.
Por outro lado, Aristóteles, também um influente filósofo, possuía uma visão peculiar sobre as mulheres. Para ele, as mulheres eram consideradas como falhas da natureza, comparadas a homens incompletos por falta de esperma. Esta visão perpetuava a ideia de que as mulheres eram mais fracas, enquanto os homens eram considerados mais fortes e superiores.
As repercussões das opiniões proeminentes da época tiveram um impacto significativo no destino das mulheres, evidenciando-se em consequências palpáveis ao longo da história.
É crucial destacar que, biologicamente, homens e mulheres são distintos. No entanto, embora os dados biológicos sejam de extrema importância, eles não justificam a subordinação e opressão da mulher na sociedade. Neste contexto, recomendo a leitura da obra "O Segundo Sexo" de Simone de Beauvoir.
Essa mentalidade resultou na construção de uma narrativa histórica que predominantemente focava os grandes eventos públicos sob a perspetiva masculina.
Qual é a relevância da História das Mulheres?
No século XX, as mulheres começaram a questionar a sua representação histórica, indagando sobre a sua identidade, contribuições e importância na história. Essa reflexão levou ao reconhecimento da importância e do propósito da História das Mulheres.
A resposta é mais simples do que parece:
Reintegrá-las no contexto histórico
Torná-las objeto de estudo e sujeitos ativos na história, além de destacar as suas realizações
Compreender verdadeiramente o papel das mulheres na história requer estudá-las, contextualizá-las e honrar as suas contribuições.
Como disse a historiadora Laurel Thatcher Ulrian, "As mulheres bem comportadas não aparecem na história". É essencial lembrar a necessidades de reconhecer e honrar as mulheres na sua plenitude na história.
Lembra-te, sempre houve um processo histórico. E a mulher sempre fez parte dele.
Até breve!
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