Porque o mundo precisa de olhares conscientes: acolhe o turismo cultural sustentável
- walkingtourwithvanessa
- 15 de abr.
- 6 min de leitura
Na procura pelo destino perfeito, pelos lugares perfeitos e pelas atividades perfeitas, esquecemo-nos de algo muito importante: onde entra, na nossa viagem, o turismo cultural sustentável?
Aproxima-se o bom tempo, as longas tardes quentes e a chegada do turismo em cheio. Procuro, através deste artigo, refletir contigo sobre o tema.
O turismo adotou o estatuto de uma das maiores atividades económicas do mundo e, como tal, merece a nossa atenção.

Turismo sustentável e desenvolvimento sustentável
O turismo sustentável é um dos maiores sectores económicos mundiais e, como tal, enfrenta grandes responsabilidades. Afinal, o turismo é um sector de pessoas para pessoas.
Com o turismo de massas em constante crescimento — e de difícil combate — como vemos em algumas cidades europeias, Barcelona, por exemplo, surge a necessidade de repensarmos o desenvolvimento sustentável e o turismo sustentável.
É importante ter em atenção que o conceito de sustentabilidade no destino turístico comporta realidades culturais, sociais, económicas e ambientais — não apenas ambientais. Implica um ciclo que trabalhe em harmonia, que se aproprie de práticas sustentáveis, para resultados positivos a longo prazo.
Desenvolvimento sustentável: o que é?
O desenvolvimento sustentável tem como prioridade a melhoria da condição de vida humana. Embora ligado ao crescimento económico, prevalece a preocupação em manter os recursos naturais e humanos.
O desenvolvimento sustentável é sempre algo pensado a longo prazo — e nunca o contrário.
Olhando para a história, o conceito surgiu em 1987, através da médica e diplomata Gro Harlem Brundtland. Ela foi a primeira pessoa a usar o termo (mais uma vez… uma mulher!). Enquanto presidente da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento da Organização das Nações Unidas, Gro apresentou um relatório onde se lê:
“Desenvolvimento sustentável significa suprir as necessidades do presente sem afetar a habilidade das gerações futuras de suprirem as próprias necessidades”.
O relatório ficou conhecido como Relatório Brundtland e podes consultá-lo, de modo a compreenderes que o desenvolvimento sustentável procura perdurar no tempo, sem colocar em risco a sobrevivência humana no futuro.
De forma simples, o desenvolvimento sustentável é uma reformulação das filosofias mais antigas sobre a conservação e gestão dos recursos, garantindo a sua continuidade no futuro. O que se acrescenta é o compromisso generalizado e a incorporação do ambiente na gestão e planeamento das atividades económicas.
A sustentabilidade é o nosso futuro. Ela expressa a ideia de que a humanidade pode — e deve — viver dentro dos limites que respeitem a capacidade dos ecossistemas e dos recursos naturais.
Creio ainda ser importante aqui acrescentar que o desenvolvimento sustentável não se circunscreve apenas ao ambiente, mas também à promoção da igualdade entre as pessoas. Não existe um modelo de desenvolvimento sustentável perfeito, mas o que nunca deve deixar de existir — e de tentar ser perfeito — é o equilíbrio entre os recursos naturais e a humanidade.
Turismo sustentável: o que é?
A sustentabilidade é um verdadeiro desafio para o sector — e requer muito compromisso.
Ora vejamos: o exponencial crescimento do turismo trouxe benefícios económicos, é certo.
Mas trouxe problemas muito graves ao longo destes anos todos. Falo da degradação ambiental, da perda de identidade cultural, da destruição e vandalismo de património cultural, da perda de habitats e, ainda, da distribuição desigual dos benefícios económicos gerados pela atividade turística.
O mau planeamento e a má gestão do turismo acarretam problemas gravíssimos.
Deste modo, o turismo sustentável deve conservar o carácter das comunidades recetoras, as suas paisagens naturais e habitats; deve preservar a economia local.
Deve manter a indústria do turismo a longo prazo e criar experiências únicas, evitando a sazonalidade (problema para muitos destinos que dependem do turismo). Especialmente, o turismo sustentável deve apresentar estratégias diferentes do turismo convencional.
O turismo sustentável é humano. E acredito profundamente que é necessário termos empatia e consciência, enquanto visitantes e residentes, do trabalho conjunto que todos podemos fazer.
A sustentabilidade no turismo permite que o sistema seja equilibrado, garantindo a sobrevivência e a qualidade de vida, baseando-se sempre no ciclo: benefícios para os residentes, satisfação dos visitantes e conservação dos recursos naturais e culturais.
Turismo cultural sustentável: uma nova visão
O turismo sustentável é abraçado por várias dimensões. Contudo, vou focar-me no segmento turismo cultural, uma vez que é o segmento em que trabalho e aquele com que mais me identifico enquanto visitante.
Porém, isso não invalida que seja aplicável a todos. Porque o é.
O turismo cultural sustentável é um conceito que tem emergido nos últimos tempos e, enquanto profissional de turismo e visitante, procuro sempre adotar práticas e comportamentos mais responsáveis e sustentáveis — e, claro, incentivar o mesmo.
Neste sentido, a dimensão social e cultural diz respeito à capacidade da comunidade recetora em absorver os impactos causados pela presença dos visitantes.
Cultural e socialmente, as comunidades do destino visitado não devem absorver a cultura, tradição e estilo dos visitantes, uma vez que isso pode levar à perda de identidade cultural daquela região e/ou destino.
Assim, o turismo cultural sustentável assume-se como uma forma de gestão do património cultural e do turismo, que beneficia o ambiente, a comunidade e a economia.
Envolve as comunidades locais no processo de tomada de decisão e visa proteger os recursos culturais para as gerações futuras.

Como funciona, na prática, o turismo cultural sustentável?
Na prática, o turismo cultural sustentável:
~conserva e gere o património cultural;
~inclui a comunidade residente na tomada de decisão;
~promove e incentiva práticas de conservação;
~apoia a economia local;
~apoia o desenvolvimento rural;
~combate o turismo de massas;
~respeita a diversidade cultural;
~procura usar os recursos de forma responsável.
Benefícios:
Quando assumimos o compromisso com a sustentabilidade no turismo cultural, promovemos a economia, conservamos o ambiente, fomentamos a coesão social, incentivamos a produção de produtos locais — seja na gastronomia ou no artesanato — e criamos uma relação harmoniosa entre a cultura e o turismo.
Rumo a um turismo cultural mais responsável e sustentável
Embora a sustentabilidade já faça parte do pensamento dominante sobre o património cultural e o turismo, a concretização tem permanecido, ainda, como uma ideia no papel — uma aspiração. Especialmente com o turismo de massas a manter um papel dominante em termos mundiais.
O que podes fazer para promover um turismo cultural sustentável?
Informa-te sobre a cultura local
Antes de visitares um determinado lugar — mesmo que seja um destino dentro do teu próprio país — é importante fazeres uma pesquisa prévia sobre esse lugar, na tentativa de identificares comportamentos e práticas locais.
A diversidade cultural, mesmo dentro do mesmo país, é multidimensional e deve ser respeitada.
Consumo consciente
Se possível, evita produtos “souvenir” de origem duvidosa (produzidos em massa e em países diferentes do visitado).
Opta por objetos artesanais feitos localmente, com materiais sustentáveis, valorizando a criatividade do artista e também técnicas artesanais.
Limitação do impacto fotográfico
Tirar fotografias com respeito — evitando tirar fotos de pessoas sem autorização ou de espaços sagrados.
Existem algumas igrejas onde é proibido filmar e fotografar, por exemplo.
É igualmente importante evitar o consumo impulsivo de imagens apenas para as redes sociais. Não se trata da procura pelos lugares mais instagramáveis, mas sim da procura pelos lugares que alimentam a nossa alma.
Procura por narrativas mais inclusivas
Atenção, não significa que não possas interessar-te pelas narrativas tradicionais, elas importam também. Mas o que eu quero dizer é que procures por outras visões da história, manifestes interesse, por exemplo, na história das mulheres do lugar que visitas. Isto vai enriquecer não só a tua experiência cultural, mas também dar mais visibilidade a narrativas que ficaram silenciadas por séculos.
Apoio ao turismo lento
Ficar mais tempo num destino permite-te conhecer o local, reduzir deslocações, consumir localmente e criar conexões reais com a cultural. A conexão é fundamental na sustentabilidade cultural.
Cuidado com a Pegada Digital
Evita geolocalizar sítios mais sensíveis, pouco conhecidos, como ruínas arqueológicas, miradouros poucos explorados, museus pouco conhecidos, para não atrair o turismo em massa que possa degradar o local.
Tem atenção aos transportes
Sempre que possível opta por meio de transportes mais sustentáveis, como bicicletas e os transportes públicos. Caminhar é uma opção cada vez mais importante, uma vez que reduz a pegada ecológica e permite a exploração mais íntima do lugar.
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A cultura é muito importante para nós. Até porque somos nós, humanidade, que criamos a cultura. E quando não a valorizamos, quem o vai fazer? É através da cultura e do património cultural que conhecemos a nossa história, que nos conectamos com a nossa identidade coletiva.
Então, faz parte ativa da sustentabilidade no turismo cultural. Sejamos parte da mudança, do conhecimento, da inspiração e do empoderamento. Ao viajarmos de forma consciente, respeitosa e sustentável, estamos a contribuir para um futuro mais equilibrado, onde a cultura e o património são preservados para as futuras gerações.
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Partilhas a mesma visão? Então, talvez estejas pronta para uma nova forma de olhar o mundo - mais consciente, mais feminina e mais significativa.
Em Lisboa, convido-te a caminhar devagar, com os olhos atentos à história esquecida das mulheres.
Junta-te a mim num dos meus walking tours feministas e sê parte ativa na mudança.
Com carinho,
Vanessa
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