No artigo de hoje, convido-te a uma reflexão profunda sobre a minha visão da capital de Portugal: será Lisboa uma cidade feminina?
Lisboa, a capital portuguesa, é conhecida pela sua história cativante, arquitetura deslumbrante e paisagens pitorescas. Mas será que esta cidade, rica em contrastes e tradições, pode ser vista como uma cidade mulher... uma cidade feminina?
À primeira vista, pode parecer que sim. No entanto, ao explorar mais profundamente, percebemos que a resposta é complexa e multifacetada.
A presença feminina na história de Lisboa
Quando pensamos na história de Lisboa, é comum ouvirmos histórias de figuras masculinas: navegadores, reis ou políticos que moldaram a cidade ao longo dos séculos. Tomemos, por exemplo, o Marquês de Pombal, frequentemente lembrado pela reconstrução de Lisboa após o terramoto de 1755, ou o rei D. Manuel, com forte influência nos Descobrimentos Portugueses, e que originou um estilo arquitetónico fascinante.
Outros exemplos incluem o místico rei D. Sebastião, o infante D. Henrique e o rei que conquistou Lisboa aos mouros, D. Afonso Henriques. Estas são apenas algumas das muitos personagens que compõem a vasta história da cidade.
No entanto, ao examinar mais de perto, vemos que as mulheres desempenharam papéis cruciais, muitas vezes subestimados e, por vezes, esquecidos. Desde a Idade Média, as mulheres em Lisboa contribuíram significativamente para a vida social, económica e cultural da cidade. Um exemplo são as mulheres das classes mais baixas que deram voz ao fado em tabernas espalhadas pelos bairros de Lisboa.
Além disso, mulheres como a Rainha D. Leonor, que fundou as misericórdias, teve um impacto profundo no desenvolvimento das instituições de caridade e assistência social na cidade.
Apesar das contribuições femininas, a história de Lisboa foi predominantemente escrita por homens e para homens, o que fez com que a presença feminina muitas vezes passasse despercebida.
É exatamente por esta razão que um walking tour feminista é tão essencial: ele permite (re)contar a história sob uma perspetiva diferente, destacando as mulheres que ajudaram a construir Lisboa, mas cujas histórias foram apagadas das narrativas tradicionais.
A representação das mulheres na cultura lisboeta
A cultura de Lisboa está repleta de referências femininas, desde as letras do Fado até às obras e elementos expostos nos seus museus. Em muitas canções de fado, Lisboa é personificada como uma mulher. Versos como “Lisboa, menina e moça”, “princesa do Tejo” ou “Lisboa companheira, mulher sem idade” refletem essa personificação. Além disso, o fado é frequentemente cantado por mulheres.
Amália Rodrigues, a grande fadista, é um ícone não apenas da música, mas também da cultura portuguesa. A sua presença conferiu visibilidade internacional a Lisboa e à sua alma melancólica.
Contudo, a relação das mulheres com o fado não é apenas uma história de arte e sensibilidade; é também uma narrativa de resistência e liberdade.
Durante décadas, as mulheres fadistas enfrentaram preconceitos e limitações impostas pela sociedade patriarcal. Muitas vezes, o trabalho noturno dificultava-lhes encontrar parceiros dispostos a aceitar um estilo de vida sem horários fixos. Além disso, enfrentaram o estigma de serem mulheres artistas independentes.
Por outro lado, além do fado, conta-se que o pastel de nata, a iguaria que é um símbolo de Lisboa, foi primeiramente registado no Livro de Cozinha da Infanta D. Maria de Portugal, neta do rei D. Manuel I. A receita dos pastéis de leite foi publicada na segunda metade do século XVI e, sem que ela soubesse, deu início a uma rica tradição gastronómica portuguesa.
Lisboa: cidade feminina?
Nas ruas de Lisboa, a cidade ganha vida com a graça e a força de uma mulher. Ela é a personificação da história, cultura e beleza que ecoam por cada ruela e praça. Lisboa é uma mulher forte e misteriosa, que convida todas as almas curiosas a descobrir as suas histórias entrelaçadas.
Então, será Lisboa uma cidade feminina? A resposta é afirmativa e envolvente. Lisboa é uma cidade mulher. Ela é varina, rainha, princesa, infanta, amiga e companheira. A presença e influência das mulheres na história e cultura da cidade são inegáveis.
Lisboa é todas essas mulheres e todas elas são Lisboa.
~
Embora sejam poucas as ruas, estátuas e monumentos de Lisboa que ostentem nomes femininos, a cidade, com a sua rica história e cultura, é um testemunho da importância crescente das mulheres ao longo do tempo.
A transformação começou a ganhar força entre 1750 e 1770, quando mulheres da nobreza e da burguesia começaram a reivindicar o seu espaço na cidade. Na segunda metade do século XVIII, as mulheres lisboetas, que antes saíam de casa apenas para cerimónias religiosas ou visitas a amigas, começaram a frequentar espetáculos e corridas de touros, marcando a sua presença em novos âmbitos da vida urbana. O século XIX trouxe um novo despertar para as mulheres, com uma participação vibrante no teatro, na ópera e nos bailes públicos.
Lisboa, com a sua aura de mistério e resiliência, reflete a força e a evolução das mulheres que ajudaram a moldá-la. Cada rua, cada esquina conta uma história de luta e conquista, revelando uma cidade que, dia após dia, se transforma para acolher e celebrar a influência feminina.
Precisas de suporte extra?
Os walking tours feministas desempenham um papel fundamental neste processo, ao recontar a história de Lisboa a partir de uma perspetiva feminina e ao inspirar a construção de uma cidade mais justa para todos.
Convido-te a juntares-te a mim num destes tours, para descobrir Lisboa sob uma nova luz e para participar ativamente na criação de uma cidade acolhedora e inclusiva. Esta é uma jornada de descoberta, reflexão e empoderamento, onde cada passo dado nas ruas de Lisboa é um passo em direção a um futuro mais igualitário.
Porque a história das mulheres importa!
Com carinho,
Vanessa
Comments