Recentemente, recebi o meu certificado da formação “Slow Travel” pelo Turismo de Portugal, e hoje quero partilhar as minhas ideias sobre esta prática de turismo que tanto me inspira. Viajar devagar não é apenas uma escolha de ritmo, mas um compromisso com o planeta, as comunidades locais e, acima de tudo, connosco mesmas.

A arte de viajar devagar
Não é novidade que o turismo é um setor dinâmico. Ele é praticado por pessoas e, portanto, é uma indústria em constante transformação. A respeito disso, podes ler o último artigo de blog que escrevi sobre as tendências de turismo cultural para 2025.
Porém, é cada vez mais importante termos a consciência de que as nossas próprias ações, enquanto viajantes, influencia muito o destino e as comunidades que visitamos.
É, então, importante começar a adotar a consciência de que precisamos de fazer escolhas e opções que sejam mais sustentáveis e vá digo saudáveis para o planeta e para as pessoas.
A responsabilidade é uma valência que devemos levar para toda a nossa vida e deve guiar todos os aspetos e todas as ações da nossa vida, mesmo implicando viajar.
Mas não te preocupes... Não é difícil.
Slow travel: a viagem calma feita com a alma
A arte de viajar sem pressa é, de facto, uma arte. Acredito que nem todas as pessoas sejam capazes de a praticar, ou sequer tenham tentado fazê-lo.
O nosso dia a dia é tão stressante, então, porque vamos colocar todo o stress numa viagem onde é suposto descansarmos e relaxarmos.
Quando foi a última vez que viveste o lugar que visitaste?
A pandemia COVID-19 veio acelerar um pouco o processo e mostrar-nos de que está na hora de abrandar o ritmo na nossa vida. Então, surge o slow travel, quase como uma forma de experienciar o turismo.
Contudo, eu atrevo-me a ir mais além… dizendo que o turismo lento deve ser uma forma de praticarmos o turismo e não somente de o experienciar.
Slow travel x turismo tradicional
Chega de viajar para os outros. Chega de viajar para as redes sociais. Chega de viajar para a foto perfeita ou mais instagramável. Chega de viver as coisas tão inutilmente.

O slow travel assume-se como uma reflexão em torno do ato de viajar, repensando na forma como o turismo tradicional é praticado
O turismo lento é um mindset que nasceu em contexto do movimento slow food, na Itália, e por volta de 1986. O movimento slow food fala-nos sobre explorar, aprender e conectarmos com a comida. Baseada numa imersão em apreciar refeições sem pressa.
Na verdade, nem todas as pessoas conseguem colocar em prática este movimento, porque viajar sem pressa vai além do superficial, do tradicional e obriga-nos a parar, a olhar e a ver as coisas no nosso redor com olhos de ver.
Sair lugar que visitamos, que até pode ser uma cidade no nosso próprio país, com a sensação de que fizemos parte de algo, de que contribuímos para algo e, acima de tudo, que vamos carregadas de aprendizagens, conhecimentos e sentimentos inesquecíveis.
Viajar devagar significa sermos parte do local que visitamos. Conversar com os locais e procurar entender quem ali vive. Ter planos de viagem, mas, ao mesmo tempo, ir sem planos. Procurar narrativas que muitas vezes são negligenciadas pelo turismo tradicional.
Significa parar, sentar numa esplanada e ficar ali… presente e a apreciar.
Significa escolher as atrações que realmente queremos visitar e passar lá horas. Significa perdermo-nos num museu. Visitar aquela igreja escondida no meio de tantas outras. Significa andar a pé ou de bicicleta e participar nas atividades locais. Significa fazer as refeições nos restaurantes locais e comprar nas lojas locais. Viajar sem pressa ensina-nos a viver para nós e por nós.
Quanto mais lento for a viagem, melhor é a experiência
Resumindo, o slow travel tem como princípio de que uma viagem, aonde quer que seja, destina-se a educar, inspirar e empoderar, criando um impacto emocional duradouro e, em simultâneo, sendo sustentável para as comunidades locais e ambiente.
Porventura, quero aqui esclarecer-te de que viajar devagar não significa que não possas visitar os lugares mais turísticos. Se eles tiverem realmente interesse para ti. Não obstante, quero que repenses realmente: vais visitar, por exemplo, o mosteiro dos jerónimos porque queres uma fotografia? Ou porque realmente queres conhecer, ver e admirar o exemplo máximo da arte manuelina em Portugal?
É possível, sim, praticar um turismo mais calmo mesmo numa cidade viva e agitada. Tenho um artigo no meu blog que explora essa questão; visitar Lisboa e colocar em prática esta filosofia. Tudo parte da nossa mentalidade e da forma como queremos experienciar.
As viagens lentas permitem-nos, acima de tudo, compreender melhor a cultura, a história e o património dos lugares que visitamos.
Como o turismo lento contribui para o empoderamento feminino?
No mundo delirante em que vivemos, onde tudo parece fugir por entre os nossos dedos, as viagens lentas assumem-se como um ato de resistência, especialmente para as mulheres.
Esta filosofia, que prioriza a conexão profunda com o lugar, com as pessoas, com a história e com o património, é sem dúvida uma poderosa ferramenta de empoderamento feminino.
Reconexão com o eu interior
Mergulhar nas histórias e cultura locais, as mulheres viajantes podem encontrar uma forma de descobrir e honrar as contribuições das mulheres que moldaram o destino visitado.
Caminhar através do olhar de figuras femininas históricas ou conhecendo artesãs, empreendedoras locais, percebe-se que as mulheres desempenham papéis cruciais, porém, ainda ignorados. Este ato reforça o sentido de pertença e o legado deixado pelo feminino.
Viajar devagar pode assumir-se como uma forma de nos vermos representadas em algum lugar.
Empatia e conexão com outras culturas
Viagens lentas significam interações mais autênticas. Conversar com outras mulheres, ouvir as suas histórias e aprender sobre as suas lutas e conquistas gera uma enorme onda de empatia e conexão.
Sustentabilidade como ação consciente
A escolha por viagens mais lentas também reflete o compromisso com o turismo mais ético e sustentável, que respeita o ambiente e as culturas locais.
O empoderamento feminino, através do slow travel, ajuda também a que as mulheres dos locais visitados possam ser responsáveis pela criação de negócios turísticos ou até mesmo que usem a criatividade e criem produtos incríveis, como o caso do artesanato local. Desta forma, assume-se um compromisso com o desenvolvimento sustentável, económico, cultural e social.
Então pode um walking tour feminista ser aliado ao slow travel?
Sim. Como foi anteriormente, o turismo lento não te impossibilita de optares por atividades ou visitares lugares mais turísticos, ou que realmente querias conhecer. Uma vez que, viajar devagar parte acima de tudo da nossa mentalidade e da forma como queremos viver.
Os roteiros feministas revelam-se como uma parte integrante do turismo lento, porque são uma verdadeira imersão nas narrativas esquecidas da cidade de Lisboa. Estas visitas são praticadas no seu tempo e espaço, respeitado as pessoas e o meio ambiente. Além disso, são fundamentais porque dão visibilidade e protagonismo às mulheres na história, património e cultura local.
Então, respondendo mais uma vez, um walking tour no feminino é uma experiência que alimenta a alma e aquece o coração. Educar as pessoas sobre a importância da mulher na história ajuda a romper barreiras de desigualdade e valoriza definitivamente a mulher porque lhe dá voz, dá-lhe contexto e dá-lhe o protagonismo histórico que ela foi privada por séculos.
Andar a pé, prática tão acarinhada pelas viagens slow, é também uma forma da mulher reivindicar os espaços públicos, já que ficaram por séculos confinadas ao privado.
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Slow travel é acima de tudo um meio para nos encontrarmos, desacelerar e ver o mundo com novos olhos. Prioriza a qualidade da tua viagem, em vez da quantidade. Mais do ver o destino, é viver o destino. Sentir o destino. Torna-te parte do lugar que visitas. Desfruta. Vive detalhadamente. O turismo é de pessoas para pessoas.
Quando te sentires pronta, estou aqui para te guiar em experiências transformadoras, femininas e inspiradoras. Podes escolher entre:
➔ Walking tour feminista “Lisboa sob o olhar da mulher”, onde desafiamos as narrativas tradicionais e descobrimos as histórias das mulheres que moldaram a cidade, numa viagem de empoderamento e inspiração.
➔ Walking tour feminista “A graça da Graça”, uma oportunidade para conhecer o icónico bairro lisboeta pelos olhos das mulheres que ali viveram, lutaram e transformaram.
➔ Apoio na partilha de histórias; aqui ajudo-te a escrever sobre turismo cultural, património cultural ou sobre as histórias fascinantes das mulheres que marcaram a história.
Estou sempre disponível para conversar contigo, tirar dúvidas ou simplesmente trocar ideias.
Com carinho,
Vanessa
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