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3 mulheres: o que aprendi com esta série

Atualizado: 17 de mai.


Existem poucas séries capazes de prender a minha atenção, especialmente as produções nacionais de Portugal. Procuro sempre por algo que não apenas me entretenha, mas que também me ensinem algo valioso. Após uma breve pesquisa, deparei-me com uma verdadeira pérola que se alinhava perfeitamente com o meu interesse pelo poder feminino. Assim, dei início a uma jornada transformadora ao acompanhar as “3 Mulheres”.


Uma odisseia inspiradora


A série portuguesa “3 Mulheres”, transmitida pela RTP e dirigida por Fernando Vendrell, estreou em 2018 na televisão nacional. A sua principal virtude reside na qualidade histórica, explorando a vida de três mulheres portuguesas que tiveram um impacto marcante na sociedade portuguesa.


Uma poetisa. Uma jornalista. Uma editora. 3 Mulheres.


Uma imagem com Cara humana, vestuário, pessoa, Acessório de moda. Lê-se 3 Mulheres de palavra fazem revolução
fonte: RTP


Inspirada na vida de Natália Correia, Maria Armanda Falcão e Snu Abecassis, “3 Mulheres” mergulha nos últimos anos do regime ditatorial português, abrangendo desde o início da Guerra Colonial até às vésperas da Revolução de Abril, entre 1963 e 1973.


Vale a pena conhecer um pouco sobre essas mulheres, cujas contribuições foram fundamentais para despertar uma consciência na sociedade portuguesa, mesmo que as suas histórias tenham sido, por muito tempo, silenciadas, oprimidas e negligenciadas.


Essas três mulheres traçaram os seus destinos numa sociedade dominada por homens poderosos.


Natália Correia


Nascida na ilha de São Miguel, nos Açores, Natália Correia mudou-se para Lisboa aos 11 anos. Descobriu a vocação para a escrita aos 24 anos, quando começou a escrever poesia. Porém, ao longo da sua vida, não se limitou apenas à poesia, mas também se destacou como dramaturga, romancista, tradutora, deputada e musa dos artistas.


Mulher de personalidade forte e inabalável, Natália não se intimidou em envolver-se em questões políticas, apoiando a candidatura de Humberto Delgado e desafiando abertamente o Estado Novo, o que lhe rendeu até mesmo uma condenação à prisão com pena suspensa.


mulher maquilhada com cigarro

Um marco da sua trajetória foi a publicação da obra “Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica”, que enfrentou a censura e resultou num polémico julgamento, também ele narrado na série.

Nesse julgamento foram condenados:


  • Fernando Ribeiro de Mello, editor, 90 dias de prisão correcional,

  • Luiz Pacheco, escritor, foi condenado a 45 dias de prisão, substituídos por multa

  • Mário Cesariny de Vasconcelos, escritor, foi condenado a 45 dias de prisão substituídos por multa

  • José Carlos Ary dos Santos, escritor, foi condenado a 45 dias de prisão substituída por igual tempo de multa

  • Ernesto Manuel Geraldes de Melo e Castro, escritor, foi condenado a 45 dias de prisão, substituída por igual tempo de multa

  • Natália Correia, Mário Cesariny, José Carlos Ary dos Santos e Melo e Castro foram condenados a penas suspensas, pelo período de três anos.

Um ano após o julgamento, Natália fundou o Botequim, um espaço que se tornou um ponto de encontro cultural em Lisboa.


Natália Correia deixou um legado poderoso na cultura poderosa, inspirando-nos a ter coragem para sermos autênticas e desafiar as normas sociais, não temendo mostrar quem realmente somos.


“Acho que a missão da mulher é assombrar, espantar.”

Maria Armanda Falcão


Maria Armanda nasceu em Moçambique em 1917, e destacou-se como uma mulher destemida e inteligente. A série retrata a sua determinação em fazer a diferença e lutar pelos seus ideais.


Francisco Balsemão, diretor do Diário Popular, percebeu a mulher rara que ela era e convidou-a a escrever uma crónica semanal mundana, cujo nome era Bisbilhotices. A condição era que deveria assinar sob um pseudónimo. Ela escolheu Vera, e em conversa com o seu amigo Luís Sttau Monteiro, ele acrescentou o nome do vinho que bebiam na altura ficando: Vera Lagoa.


Mulher sentada a escrever, com óculos na mão


No período em que a série decorre, Maria Armanda casou com um homem muito mais novo, José Manuel Tengarrinha, um professor universitário, jornalista e político opositor ao Estado Novo. A relação acabou com um abandono, e na série conseguimos perceber que uma mulher divorciada, numa sociedade extremamente patriarcal e conservadora, era muito mal vista.


Através da sua narrativa na séria “3 Mulheres, ensina-nos a importância da amizade e do apoio mútuo. A relação de Maria Armanda com os seus amigos demonstra como a amizade verdadeira pode ser um pilar nos momentos mais difíceis.





Snu Abecassis


Confesso que fiquei assoberba com esta mulher. Apesar de não ser portuguesa, era com certeza uma mulher portuguesa.


Nasceu na Dinamarca e veio de uma família intelectual. Chegou a Portugal, fruto do seu casamento com Vasco Abecassis e percebeu rapidamente o que tinha pela frente. Porém, nunca se intimidou com pelo país atrasado e conservador da década de 60.


Snu era o oposto das duas portuguesas, também retratadas na séria. Já o seu marido, Vasco, provinha de uma família portuguesa abastada que se submeteu ao regime. Este não mostrava interesse pela política, pela violência e ignorância que o Estado Novo impunha ao país. Algo que Snu nunca se conformou.


Mulher a sorrir, encostada a uma parede e com os braços cruzados


Aprendeu português sozinha e decidiu que iria fazer a diferença pelo país que considerava a sua casa. Decidiu fundar a Editora Dom Quixote, em 1965. Os primeiros livros publicados pela editora foram O Esconderijo, de Robert Shaw, A África Começa Mal de René Dumont e As Duas Culturas de C. P. Snow. Com a chancela “Cadernos Dom Quixote” lança Grécia 67A Crise na IgrejaO Conflito Israelo-árabe e Bolívia – Um Segundo Vietname.


Como seria de esperar, os livros foram apreendidos pela PIDE, chegando a ser chamada à sede da polícia política. Na série, temos a oportunidade de ver esse momento, e perceber o poder e o cuidado que ela tinha, mantendo sempre a postura de uma mulher empoderada, informada e inteligente.

Snu Abecassis viu a sua maior realização quando a Dom Quixote, após o 25 de abril de 1974, tornou-se uma das maiores e mais prestigiadas editoras portuguesas.


Snu exemplifica a determinação e a luta pelos ideais, mostrando-nos que devemos perseguir os nossos sonhos com coragem e persistência, mesmo diante de dificuldade.


3 mulheres: Uma reflexão sobre o passado para iluminar o futuro


“3 Mulheres” não só nos envolve com histórias fascinantes destas mulheres, como também nos faz refletir sobre os desafios enfrentados pelas mulheres portuguesas durante o regime ditatorial. Ser mulher, nesse período, significava estar em segundo plano, não tinha liberdade e era limitada ao espaço doméstico, a ser mãe e esposa. Era considerada um ser inferior.


Porém, estas mulheres desafiaram essa visão, reivindicando o seu lugar numa sociedade tradicional e deixando um legado poderoso e de inspiração para as gerações que se seguiram.


Recomendo vivamente essa obra inspiradora, disponível na RTP Play e na Amazon Prime, como uma verdadeira lição de vida, repleta de coragem, inspiração e força feminina.


3 mulheres
fonte: RTP

A história das mulheres é um roteiro infinito, cheio de paragens obrigatórias. Quando visitares Lisboa, convido-te a mergulhares na história de mulheres destemidas que deixaram a sua marca nas ruas desta cidade.


Imagina-as a caminhar pelas ruas, e deixa-te envolver pela influência que exerceram. Essas reflexões não apenas alimentarão a tua alma, mas também enriquecerão a tua jornada, tornando cada passo ainda mais significativo.


Se estás à procura desse tipo de experiência autêntica, quero que saibas que estás no lugar certo. Aqui, valorizo a autenticidade e procuro por narrativas que vão além do comum. É importante valorizar cada momento em que nos conectamos com a essência do lugar, procurando experiências que transcendem o superficial.


Cada passeio, cada encontro, representa uma oportunidade única. Os walking tours oferecem uma maneira singular de explorar a essência de Lisboa, permitindo que sintas a sua magia e descubras os seus segredos mais íntimos.


E quando essas caminhadas são enriquecidas com uma perspetiva histórica feminina, tornam-se ainda mais poderosas. Permite-me guiar-te nesta jornada de emoção, narrativa e empatia pela cidade de Lisboa. Aqui, o turismo é lento e responsável, possibilitando que mergulhes verdadeiramente na cultura e na história.


Se desejares, podes fazer o download gratuitamente nosso ebook "Guia de Viagem em Lisboa", que irá ajudar-te a conhecer a cidade de forma leve e profunda. Esta não é apenas uma viagem para ver, mas sim para sentir, compreender e conectar-se verdadeiramente.


Agenda o teu walking tour hoje mesmo e começa a preparar-te para uma viagem inesquecível, onde cada momento é uma oportunidade para aprender, crescer e inspirar-te. Estou ansiosa para compartilhar esta jornada contigo.



Até breve!


Assinatura da autora. Lê-se Vanessa.

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