Havia alguns anos que não visitava a histórica cidade do Porto, no norte de Portugal. Não me recordo exatamente a última vez que visitei, mas sei que a cidade não tinha o impacto que tem hoje.
De Porto Cale, mais tarde, viria o nome de Portugal. Por aqui, passaram os celtas, os romanos, os muçulmanos e os cristãos. Foi palco de guerras liberais e absolutistas. Viu, ainda, a sua paisagem a ser reconhecida como Património da Humanidade pela UNESCO.
Uma breve história do Porto
Num tempo longínquo, uma pequena aldeia chamada Portus Cale, era uma paragem obrigatória na rota que ligava Braga a Lisboa. Os romanos chegaram até aqui e ocuparam um morro na zona da Sé. Mais tarde, os fenícios e os gregos vinham até cá para ganhar a vida nas andanças do comércio dos seus produtos.
Após a instalação dos árabes na cidade, o Porto tornou-se numa terra esquecida… Até ao dia, em que se tornara parte do Condado Portucalense com D. Teresa de Leão e D. Henrique a geri-lo.
Em consequência da expansão marítima, nos séculos XV e XVI, deu-se início a grandes construções religiosas que hoje decoram a paisagem da cidade de Porto. É também neste período que aqui se desenvolve a construção naval portuguesa.
O Porto viu nascer o infante D. Henrique e despediu-se dele, em 1415, quando partiu à procura da costa ocidental africana.
A cidade Invicta recusou-se a viver sem liberdade e agarrou-se a ela com toda a sua força. Orgulha-se de trocar os “bês” pelos “vês” e não disfarça o seu sotaque inconfundível.
E diz-se por aí, que a Igreja da Lapa, guarda o coração de um rei. D. Pedro IV, como prova do seu amor à cidade e para agradecer aos portuenses pela lealdade nas guerras liberais, deixou o seu coração.
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São ruas e ruelas, algumas quase mais íngremes do que Lisboa, travessas e escadinhas que se confundem com as cores dos edifícios e as roupas à janela. O Porto é tão ouro como o seu Douro.
Roteiro pelo Porto: o que ver e visitar
O dia começou cedo. Estava nebulado, mas prometia ser quente. Saí na estação do metro Trindade e desci até chegar, por fim, à Câmara Municipal do Porto.
Por aqui, já existiam grupos de turistas e visitantes curiosos a fotografar ou a ouvir atentamente o que lhe diziam sobre a história da cidade.
Olhei para a Câmara e apreciei.
Câmara Municipal do Porto
Este edifício foi o último monumento em granito a ser construído em Portugal, tornando-se numa dos postais da cidade. As suas obras iniciaram em 1920, mas a sua inauguração apenas se deu 37 anos depois, ao acaso ou não, no mesmo dia e no mesmo mês.
A Câmara marca uma nova era na cidade do Porto, ou seja, é o resultado da expansão urbanística à qual levou também à abertura da Avenida dos Aliados. Ao atentar nos pormenores da sua fachada encontra-se elementos eternamente ligados ao Porto, como por exemplo, a viticultura, ou indústria, ou a navegação.
Mercado do Bolhão
Depois de uma pequena pausa, num café local, na Avenida dos Aliados, o sol já se fazia alto e o próximo destino era o Mercado do Bolhão.
Enquanto lá chegava, tentei lembrar-me de um Porto que já não me lembrava. Testemunhar a evolução e o crescimento de uma cidade é um choque de realidade que nos abana e grita-nos que o tempo passou rápido demais. Ainda continua a passar rápido demais, ou será que apenas escolhemos não abrandar o ritmo?
A história do mercado começou em 1838, quando a Câmara decidiu comprar uns terrenos na zona. Diz-se que, neste local, havia imensa lama acompanhada por um pequeno ribeiro, à qual se formava uma bolha – ficando assim apelidado de Bolhão.
Porém, apenas em 1914, é que foi construído de facto o Mercado do Bolhão. Toda a sua construção foi promissora e um avanço à sua época, pois foram utilizados materiais novos como estruturas metálicas, coberturas em madeira e a cantaria em granito.
Por aqui, vê-se produtos frescos, flores cheirosas e peixe acabado de pescar. À hora de saída, o mercado já se enchia de almas curiosas a ansiar provar o que ali se oferecia.
Rua de Santa Catarina
Ali perto do Mercado do Bolhão, encontra-se uma rua movimentada e a artéria comercial da Baixa do Porto. O nome da rua foi emprestado de uma bonita capela que ali se situa – Santa Catarina. Uma homenagem feminina, à Catarina de Alexandria. Porque o Porto também é feminino!
Um passeio por esta rua leva-nos a admirar fachadas de arte nova, descobrir a antiga sede do jornal portuense “O primeiro de janeiro” e casas decoradas de azulejos que viram nascer ou morrer escritores ou poetas.
Mas, é no fundo da rua que o meu olhar se prende.
Capela das Almas
De todas as vezes que vim ao Porto, esta foi a primeira vez que visitei a Capela das Almas. A construção atual remonta ao século XVIII, numa altura em que a irmandade das almas e das chagas de São Francisco passou para a Capela de Santa Catarina.
Porventura, na sua génese está numa pequena capela de madeira em devoção a esta santa. Catarina de Alexandria foi uma jovem que protegeu cristãos, acabando por ser condenada à morte.
A beleza deste pequeno tempo religioso chega a ser estrondosa, sendo impossível ficar indiferente. A sua fachada é revestida por mais de 15 mil azulejos, provenientes da Fábrica de Cerâmica Viúva Lamego, em Lisboa. São datados de 1929 e representam a vida de São Francisco de Assis e de Santa Catarina.
Torre e igreja dos Clérigos
O roteiro pelo Porto histórico continuou, e em direção a um outro monumento. A Torre e igreja dos Clérigos.
Esta é, sem dúvida, uma obra perfeita do século XVIII. Cada detalhe da sua fachada vale um olhar atento.
Como pode a arte ser tão bela?
Porém, é a torre o verdade ex-libris da cidade Invicta que se afirma imponente ao longo dos seus 75 metros. A construção desta igreja associa-se à formação da Irmandade dos Clérigos, cuja função era prestar auxílio ao clero na pobreza, doença e na morte.
Depois de subir 225 degraus, chega-se ao topo e somos brindadas por uma vista de cortar a respiração. Todo o conjunto arquitetónico está classificado como Monumento Nacional, desde 1910.
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O passeio continuou pelas imediações admirando, mais uma vez, tudo o que Porto tinha para oferecer: a sua arte, as suas fachadas, a sua tradicionalidade. A essência desta viagem ao Porto era sentir a sua magia, de modo lento e contemplativo.
Jardim do Palácio de Cristal
O próximo ponto de paragem foi o jardim do Palácio de Cristal.
Um jardim fresco, verdejante e romântico. Projetado em 1860 para abrigar o Palácio de Cristal, continuou a ser refúgio para muitos mesmo quando o palácio passou a Pavilhão Rosa Mota.
Por aqui, encontramos a Avenida das Tílias, a Biblioteca Municipal Almeida Garret, a Concha Acústica e a Capela de Carlos Alberto de Sardenha.
Mas é o sossego e a vista para o rio, mar e terra que tem o coração. Aqui, ao ver o outro lado, Vila Nova de Gaia, imortaliza-se a memória de uma mulher que alavancou o vinho do Porto.
A mulher do Porto
Aos 33 anos viu-se diante da responsabilidade de liderar os negócios familiares, numa era em que a mulher apenas era mãe e esposa.
Assumindo o leme da Casa Ferreira, Dona Antónia, mergulhou na missão de honrar o legado, tornando-a numa referência de empreendedorismo feminino. Dona Antónia inovou nas técnicas e conhecimentos do setor vitivinícola, elevando a qualidade dos vinhos Ferreira.
Hoje, a Casa Ferreira é mais do que uma marca de renome. É um testemunho vivo da visão e paixão de uma mulher extraordinária. Porque é isso que é a mulher portuense. Determinada, resiliente e corajosa em deixar o seu legado no mundo.
Sé do Porto
Depois de uma paragem para almoçar, no restaurante Cervejaria Gazela - O Original Cachorrinho, o passeio pelo Porto continuou.
A Sé do Porto ainda conserva os traços da igreja românica primitiva. Apresenta, contudo, vários estilos inseridos, resultado das diversas modificações que sofreu ao longo dos séculos: sobressai-se o estilo maneirista, o barroco e o gótico.
Foi nesta catedral que o rei D. João I e D. Filipa de Lencastre se casaram em 1387, enchendo as ruas de alegria e flores.
A Catedral do Porto foi construída na zona mais alta da cidade e perto dela ainda existem partes da muralha que a defendia. É uma visita obrigatória, e a sua beleza conferiu-lhe o estatuto de Monumento Nacional.
De lá, sobre o varandim da Catedral, permanece uma vista deslumbrante para o rio, para a cidade e para o outro lado: Gaia.
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E foi hora de atravessar a ponte.
Uma passagem em Gaia
A última parte do roteiro no Porto terminou em Gaia, presenteando-me com uma vista bonita para a cidade portuense.
Para lá chegar, pode-se atravessar a Ponte D. Luís I, já que é a principal ligação entre Porto e Gaia. É uma ponte de ferro e divide-se em 2 tabuleiros. Foi inaugurada em 1886 e é um símbolo da cidade.
Por sua vez, Vila Nova de Gaia, é conhecida pelas caves e vinhos do Porto e do Douro, pela videira e pela indústria automóvel.
Junto ao rio, apraz-se uma brisa refrescante e acolhedora. Por aqui, sentei-me a descansar e a refletir sobre a importância da cidade e o impacto do turismo nela. Sem dúvida, que cresceu nos últimos anos.
E ainda bem, porque assim se mantém o comércio local, a economia da região e a valorização de tudo o que tem para oferecer.
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O roteiro pelas ruas do Porto terminou, já eu sentada numa esplanada, num café local, a agradecer a oportunidade e a felicidade de (re)conhecer o meu país.
Gostava de ter visto mais coisas, ou de ter ido a mais sítios. Mas uma viagem sem pressa e lenta preza-se pela qualidade em vez da quantidade. E eu não poderia deixar de viver uma experiência que tanto valorizo. E, porque no final das contas, há sempre novas oportunidades para voltar. É como se diz “voltar aonde somos felizes.”
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